sábado, 29 de setembro de 2012

Quando Marte se chamou... Barsoom




Encanta a nossa imaginação há séculos. Kepler estudou- o em inícios do século XVII, Percival Lowell observou- o mais atentamente em finais do século XIX. H. G. Wells fez dos seus “habitantes” autores de uma devastadora invasão ao nosso mundo em 1895. Ao planeta vermelho de que falamos demos nome do deus romano da guerra: Marte. Mas por lá, pelo menos como o imaginou Edgar Rice Burroughs há cem anos, chamam- lhe Barsoom.

Aclamado sobretudo pela mais célebre das suas criações ( Tarzan, que “nasceu” também em 1912), Edgar Rice Burroughs fez de John Carter um dos primeiros heróis interplanetários da história da ficção científica. E quem é John Carter? É um americano, de quase um metro e noventa de altura. Combatera pelo lado dos confederados na Guerra da Secessão e, depois do fim do conflito, rumara ao Arizona, onde prospetava ouro. Um dia perde os sentidos enquanto se escondia dos índios apache numa gruta. Desperta num deserto. Mas num deserto diferente. Descobre depois que está em... Barsoom. Longe do seu mundo, entretanto reduzido a um pequeno ponto azul claro no céu marciano.

John Carter surgiu pela primeira vez nas páginas da revista The All-Story como protagonista de Under The Moons of Mars, publicado entre fevereiro e julho de 1912. Cinco anos depois, quando chegou a altura de juntar a mesma narrativa num só livro, Edgar Rice Burroughs deu- lhe outro nome: The Princess of Mars. A mesma história que a Disney produziu em John Carter, adaptação ao grande ecrã que, depois de carreira em sala, chega agora a home video nos formatos de DVD e Blu-ray.

Realizado por Andrew Stanton (que assinou títulos da Pixar como À Procura de Nemo ou Wall-e, com Taylor Kitsch no papel de Carter e um elenco onde se destacavam as presenças de William Dafoe e Samantha Morton, John Carter parte da primeira aventura publicada por Burroughs em 1912 para sugerir uma aventura que depois segue o seu rumo próprio (o herói chega a Barsoom, vê- se no meio de um conflito local e toma posição).

Foi um desastre na bilheteira nos EUA, com consequências inclusivamente na estrutura da companhia (perante um cenário de iminente desaire no box office americano, Rich Ross, que liderava os estúdios Disney, demitiu-se). Os números foram contudo mais favoráveis em solo europeu, as edições em DVD e Blu-ray contribuindo agora para equilibrar o volume do investimento. Melhores resultados, mesmo assim, do que os de Princess of Mars ( sem qualquer ligação com a Disney), uma adaptação por Mark Akins em 2009 que acabou por ter edição direta em DVD.

John Carter surgiu com os cem anos da personagem na agenda. Mas os fracos resultados de bilheteira deverão comprometer a sequela que chegou a ser ponderada a partir de Gods of Mars, de 1913. Sobreviverá o herói às celebrações do centenário?

Os livros

Foi redigida ainda em 1911, mas só em fevereiro de 1912 o mundo pôde ler a primeira aventura de John Carter. Renomeada The Princess of Mars em 1917 ( na edição em livro), a primeira das “Barsoom novels” de Edgar Rice Burroughs criaram um mundo de aventuras que deu às revistas deste tipo de narrativas de ficção científica e aventuras ( as pulp magazines) uma série de sucesso. Ao todo, Burroughs escreveu 12 romances com John Carter como protagonista, o mais recente, Skeleton Men of Jupiter, publicado na revista Amazing Stories em 1943.
O cinema há muito que sonhava em visitar este universo. Chegou a haver um projeto de animação nos anos 30, mas não avançou. Princess of Mars, de 2009, só teve edição em DVD. John Carter teve mais visibilidade. Mas não gerou o sucesso esperado. Traduzido para português como John Carter ( e usando a imagem do filme no grafismo da capa), a primeira dessas aventuras escritas por Edgar Rice Burroughs foi lançada este ano entre nós em livro pela Saída de Emergência.

(este texto foi originalmente publicado na edição de 28 de agosto de 2012 do DN)

Marcas da passagem de água na Cratera Gale

Foi notícia esta semana, a identificação de estruturas compatíveis com a existência de um regime de aluvião no solo marciano. Captada pela Curiosity, esta é uma das mais visíveis expressões morfológicas da existência de água já captadas na superfície de Marte.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Uma assinatura terrestre em Marte

Na verdade são várias assinaturas. Mas reparem na que surge no topo da placa, logo sob o nome verdadeiro da Curiosity (ou seja, o Mars Science Laboratory)... Pois, é a de Barack Obama! A foto é uma das mais recentes imagens enviadas da Cratera Gale pela sonda da Nasa que ali chegou em agosto.

Uma revolução em Marte


Uma das primeiras experiências de ficção científica na história do cinema, Aelita (URSS, 1924), realizado por Yakov Protazanov, com base na adaptação de um romance então recentemente publicado por Alexei Tolstoi, propõe uma história vivida entre dois planetas, a Terra e Marte, do primeiro partindo um jovem aventureiro russo num foguetão e, com ele, as sementes para uma revolta inspirada nos ideais da revolução de 1917, auxiliando uma rainha tiranizada pelo seu pai.

Apesar do subtexto ideológico (que na verdade só ganha peso dramático na etapa final do filme), Aelita é um bom exemplo de construção de uma narrativa com evolução em paralelo entre cenas do quotidiano na Terra de inícios dos anos 20 (em concreto a cidade de Moscovo) e a capital marciana, onde, através de uma recente invenção cuja existência os cidadãos do planeta desconhecem, a rainha Aelita observa a vida no planeta azul, nele descobrindo um jovem cientista por quem se apaixona... Naturalmente, o mesmo que a irá visitrar num foguetão, alguns dias mais tarde... Aelita é uma interessante experiência visual, revelando sobretudo nas sequências marcianas uma série de códigos de arquitectura e design em sintonia com as linhas mestras do construtivismo, definindo formas e soluções que tiveram depois imediata consequência em outras experiências na área, nomeadamente alguns dos serials produzidos nos EUA pouco depois, entre os quais o globalmente célebre Flash Gordon. A edição em DVD que está disponível entre nós devolve à vida o filme depois de um trabalho de restauro da imagem, trocando o silêncio desta produção dos dias do cinema mudo por uma banda sonora que usa peças de Scriabin, Stravinsky e Glazunov. Nos extras seve-se um comentário, galerias de imagens e alguma informação complementar sobre este clássico pioneiro do cinema de ficção-científica.

sábado, 22 de setembro de 2012

Bem-vindos... a Marte

Lembro-me de caminhar entre as paredes do Valles Marineris, através de uma viagem num ecrã de computador. Via um dos episódios da série Cosmos, de Carl Sagan, o percurso marciano fazendo-se ao som do primeiro andamento da suite Os Planetas, de Gustav Holst. Creio que nasceu aí um foco de interesse pelo nosso mundo vizinho, que com o tempo fui mantendo vivo quer através dos livros e dos sites onde fui acompanhando as sucessivas missões ao planeta ao universo da ficção científica, dos livros aos filmes... Por este blogue vão passar "coisas" marcianas. Os livros (de divulgação e de ficção científica), os filmes, as canções. Mas também as imagens, as revelações, as histórias. Um mundo para descobrir, aos poucos, sem um plano fixo. Apenas com um destino: Marte.